Etapas da produção editorial

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Apresentação[editar | editar código-fonte]

A produção editorial é composta de várias etapas, todas controladas pelo editor responsável pela obra. Comentaremos aqui de forma bastante simplificada e ideal os passos da produção editorial, desde a tradução (após a avaliação da obra original a ser publicada e compra dos direitos autorais de tradução da obra original por uma editora) até o envio para a gráfica ou para a equipe de produção de ebook, uma etapa nova que foi acrescentada nos últimos tempos com o advento dos ereaders. Não se trata de um artigo exaustivo, muito pelo contrário: tratamos aqui de forma quase esquemática, mas informativa, o processo editorial.

Envio para tradução[editar | editar código-fonte]

Com os direitos adquiridos para a tradução da obra original, o editor responsável entra em contato com o(s) tradutor(es) de sua confiança ou a quem pretende enviar a obra original. Muitas vezes, mediante testes, ele define qual tradutor melhor se encaixa naquela obra ou série de obras. Nesta etapa, o editor sempre levará em conta a especialidade do tradutor quanto aos gêneros, obras já traduzidas e experiências anteriores do tradutor (e com ele, caso já tenha trabalhado com o profissional).

Tradução[editar | editar código-fonte]

Elaboração da obra de tradução, cujo prazo dependerá do volume da obra original. Neste momento, há contato esporádico com o editor para informação sobre o andamento do trabalho, dúvidas e outros problemas que possam aparecer durante o processo tradutório. Importante o tradutor ter em mente enquanto faz sua tradução que ela será vista por mais de uma pessoa durante o processo editorial, por isso avisos feitos com a ferramenta "Comentários" do editor de texto, relatórios finais e outros recursos de esclarecimento de decisões às vezes se fazem necessários.

Preparação ou copidesque[editar | editar código-fonte]

Após terminada a obra de tradução (ou, se combinado, nas entregas parciais da tradução), o editor verifica o arquivo que recebe do tradutor e o envia para o preparador de texto/copidesque. Este profissional precisa ter bons conhecimentos da língua-fonte e da língua-alvo, pois fará o cotejo da tradução, ou seja, comparará o texto na língua-fonte e a tradução para verificar se não houve saltos (omissão de trechos), se os textos realmente correspondem (se não há intervenções demais do tradutor sem que haja necessidade etc.). Também verifica a padronização segundo o manual de estilo da editora. As maiores preocupações do preparador neste estágio serão a fluência e o estilo do texto, e não as questões estritamente gramaticais, porém muitas vezes ele também inicia o processo de revisão, tirando, digamos assim, o "grosso" de erros e equívocos que encontrar. Este profissional deve sempre se questionar quanto aos limites de intervenção no texto do outro, quando uma troca é meramente idiossincrática e quando é necessária, e também estar a par do estilo do autor para que não faça mudanças que interfiram no desenvolvimento do texto. Chegar a esse equilíbrio é difícil e, em geral, a experiência e o feedback do editor ajudam a alcançar o meio-termo desejado.

Estágio intermediário: elaboração do projeto gráfico[editar | editar código-fonte]

Muitas vezes este estágio acontece durante a tradução. O diagramador e o diretor de arte definem juntos a tipografia do livro, a estrutura, os níveis de títulos e entradas, os elementos gráficos e outros que comporão o miolo do livro. Em geral é feito um estudo quanto ao visual do livro, os custos, número de páginas, cores etc. Neste momento também começa a ser definida a capa do livro e seus elementos.



Envio ao tradutor para validação das alterações[editar | editar código-fonte]

Segundo a lei dos direitos autorais, sendo o tradutor autor da obra de tradução, todas as alterações feitas em seu texto deveriam ser, obrigatoriamente, por ele autorizadas (Direito de integridade da obra, art. 24, IV da LDA). Desta forma, a próxima etapa deveria ser o envio do texto ao tradutor, mas, ao arrepio da lei, isso nem sempre acontece.

Primeira revisão[editar | editar código-fonte]

Depois de o texto ser devolvido para o editor, este verificará as emendas feitas pelo preparador de texto (ainda no documento em Word), aceitará ou recusará as mudanças, dirimirá dúvidas e problemas, imprimirá o livro com as marcas feitas pelo preparador e enviará o arquivo para o diagramador. O diagramador, por sua vez, aplicará o projeto gráfico a este miolo do livro, já com todos os elementos gráficos, tipografia etc. Imprime-se também uma prova diagramada e as duas são enviadas para o primeiro revisor, que trabalhará com as duas cópias impressas e o original, em caso de dúvidas. O primeiro revisor terá duas missões principais: 1. verificar se todas as mudanças feitas pelo preparador realmente foram passadas para a prova diagramada (bater emenda, vide abaixo); 2. fará uma leitura aprofundada sob uma perspectiva gramatical, sem se aprofundar em questões estilísticas (que supostamente já foram resolvidas pelo preparador). Também conferirá se o manual de estilo da editora foi seguido, se a paginação, cabeços [elementos de identificação que ficam no alto da página], elementos gráficos e afins estão corretos. Todo esse processo é feito no papel, com marcas de revisão conhecidas (vide Figura 1).

Figura 1 – Alguns sinais de revisão
Figura 1 – Alguns sinais de revisão

Figura 1 – Alguns sinais de revisão

Estágio intermediário: bater emenda[editar | editar código-fonte]

Livro devolvido com a primeira revisão, é hora de diagramar novamente com essas alterações. Este trabalho é feito pelo diagramador, que passa as alterações feitas no papel para a nova prova diagramada: todas as imprecisões, trocas de palavras, espaços duplos, linhas viúvas e órfãs são verificadas e alteradas no arquivo do livro já diagramado. Depois de impresso, o editor, assistente editorial ou revisor interno bate as emendas para verificar se o diagramador inseriu todas as alterações solicitadas pelo primeiro revisor no texto que seguirá para a segunda revisão.

Segunda revisão[editar | editar código-fonte]

A segunda revisão em geral é feita como uma medida de segurança para minimizar os erros gráficos de um livro. Palavras duplas, palavras com letras trocadas ou faltantes, paragrafação, repetição de palavras ou sílabas nas margens direita e esquerda, além dos elementos gráficos são verificados pelo segundo revisor. É uma revisão na "ponta da caneta", como se dizia antigamente, ou seja, a preocupação agora é com os erros gráficos, as famosas gralhas, que aparecem no texto. Monteiro Lobato fez um comentário famoso sobre esses erros que são o alvo do segundo revisor:

"A luta contra o erro tipográfico tem algo de homérico. Durante a revisão os erros se escondem, fazem-se positivamente invisíveis. Mas, assim que o livro sai, tornam-se visibilíssimos, verdadeiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas. Trata-se de um mistério que a ciência ainda não conseguiu decifrar."

Atualmente, este estágio tem sido feito também em arquivos, e não em texto impresso. Em geral, envia-se o arquivo diagramado em PDF para o segundo revisor com a prova impressa da primeira revisão, e as alterações são feitas com comentários dentro do arquivo.

Finalização[editar | editar código-fonte]

Repete-se o estágio intermediário "bater emenda": o diagramador passa as mudanças do segundo revisor para o arquivo, imprime o livro novamente (ou fecha o arquivo num novo PDF) e um funcionário do editorial bate as emendas. Neste estágio, esperam-se mudanças mínimas dentro do miolo, apenas ajustes necessários antes que os arquivos finalizados sejam enviados para a gráfica e/ou para o departamento de produção de livros eletrônicos (ebooks). Observação importante: todo este processo deve ser supervisionado pelo editorial e/ou pelo responsável pelo departamento de produção (muitas vezes são departamentos separados dentro das editoras).


Pequena bibliografia[editar | editar código-fonte]

ARAÚJO, Emanuel. A construção do livro: princípios da técnica de editoração. 2. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.

LUPTON, Ellen. Pensar com tipos (trad. André Stolarski). São Paulo: Cosac Naify, 2006.

MANUAL de redação: Folha de S. Paulo. 17. ed. São Paulo: Publifolha, 2011.

MARTINS Filho, Eduardo Lopes. Manual de redação e Estilo de O Estado de São Paulo. 3. ed. São Paulo: O Estado de São Paulo, 1997.

Para uma bibliografia comentada e mais ampla sobre o livro e a leitura, veja a página do Escritório do Livro: [1]